Os sucessivos aumentos nos preços dos alimentos têm pressionado o bolso do consumidor e afetado a percepção sobre a inflação no Brasil. De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), apesar dessa alta contínua, um fator evitou que o pessimismo se intensificasse: o avanço na renda da população. Já são oito meses seguidos de alta nos preços dos alimentos, e isso elevou a expectativa de inflação futura para 6,6% em março, contra 6,8% em janeiro. Em abril, houve leve melhora, com projeção reduzida para 6,4%, mas ainda distante dos 6,0% registrados em setembro de 2024, antes do atual ciclo de aumento nos alimentos.
Mesmo com a percepção inflacionária ainda elevada, o comportamento do mercado de trabalho tem servido como uma âncora para o sentimento do consumidor. Como destaca a pesquisadora Anna Carolina Gouveia, a inflação não entrou numa trajetória explosiva. Com mais renda à disposição, muitas famílias têm feito substituições no carrinho de compras, o que ajuda a conter reações mais negativas. Além disso, o histórico do indicador revela momentos piores: em fevereiro de 2016 e julho de 2022, por exemplo, a expectativa inflacionária chegou ao pico de 11,4%.
Outro ponto a ser considerado é o peso da alimentação no orçamento doméstico. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta acumulada de 5,53% até abril de 2025, mas os gastos com alimentação e bebidas subiram 7,81% no mesmo intervalo. Para Gouveia, o fato de os preços não terem voltado a crescer em ritmo de dois dígitos foi essencial para esse cenário mais equilibrado. A boa notícia é que até mesmo a projeção de inflação para três anos à frente caiu: depois de atingir 8,0% em fevereiro, recuou para 7,3% em abril, sinalizando uma leve, porém relevante, tendência de alívio. </div>