Um novo estudo brasileiro voltou a levantar uma importante questão sobre a saúde alimentar da população: como saber, de forma prática, se um produto é um alimento ultraprocessado? A pesquisa, conduzida por especialistas do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou mais de 8 mil itens vendidos em supermercados de São Paulo e Salvador, entre abril e julho de 2017. O resultado mostrou que 37,3% dos produtos classificados como ultraprocessados não receberiam o selo de alerta da famosa lupa preta, que indica altos teores de açúcar, sódio ou gordura saturada.
Fica o alerta: contar apenas com a presença da lupa no rótulo não garante segurança. Os pesquisadores apontam que, para reconhecer um produto como ultraprocessado, o consumidor deve verificar também a lista de ingredientes, em busca de três aditivos cosméticos: aromatizantes, corantes e adoçantes sem açúcar (como sucralose, xilitol e acessulfame K). Esses compostos são usados exclusivamente para modificar sabor, cor ou textura — sem qualquer valor nutricional. Segundo o estudo, quase 90% dos alimentos ultraprocessados contêm a lupa ou pelo menos um desses aditivos. Por isso, a recomendação é que os consumidores combinem as duas análises antes de fazer suas escolhas no mercado.
Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, os alimentos ultraprocessados são aqueles que passam por técnicas industriais intensivas e contêm ingredientes que não estão presentes na cozinha tradicional, como emulsificantes e conservantes artificiais. Entram nessa categoria produtos como nuggets de frango, refrigerantes, bolachas recheadas e sucos artificiais em pó. A nutricionista Daniela Canella, uma das autoras do estudo, lembra que o Brasil adota critérios menos rígidos do que os propostos pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Isso pode levar a uma subnotificação de riscos no atual modelo de rotulagem. A proposta dos pesquisadores é clara: adotar padrões mais exigentes e considerar alertas visíveis também para a presença de aditivos — uma medida que pode ajudar a frear o avanço do consumo desses produtos no país.